Luz e sombras no primeiro dia do Preserva.ME 2016

Luz e sombras no primeiro dia do Preserva.ME 2016

Luz e sombras no primeiro dia do Preserva.ME 2016

A falta de pessoal especializado e os desafios metodológicos enfrentados pelos profissionais da área na organização dos arquivos pessoais foram o destaque da palestra ministrada por José Benito Yárritu Abellás, que abriu, hoje pela manhã, a segunda edição do Encontro Nacional sobre Preservação de Memória do Setor de Energia Elétrica – Preserva.ME-2016, que começou hoje na Fundação Biblioteca Nacional.

Tecnologista do Arquivo de História da Ciência (AHC) do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), Abellás trabalha na organização de arquivos pessoais de cientistas e de instituições de ciência e tecnologia sob guarda da instituição com apenas mais três profissionais, no prédio localizado em São Cristóvão. Os quatro pesquisadores são responsáveis por captar, organizar e disponibilizar não só estes arquivos, mas também gerir os documentos que foram e são produzidos normalmente pelo AHC.

O trabalho com os arquivos pessoais é dos mais delicados, segundo Abellás, por obrigar os pesquisadores a lidar com “a luz e a sombra” das subjetividades inerentes à organização de qualquer acervo pessoal. “Os critérios na organização de um arquivo pessoal são necessariamente subjetivos e o nosso trabalho é dar intelegibilidade a esses arquivos”, explicou o profissional.

Para dar cabo desse trabalho, os pesquisadores do AHC realizam, primeiro, um levantamento detalhado da biografia do criador do arquivo – porém “não é para fazer a biografia”, enfatizou Abellás . Depois identificam cada documento (a fase mais trabalhosa), organizam o quadro de arranjo – uma fase que pode voltar à estaca zero se surgir qualquer documento que não esteja classificado nas séries identificadas pelos arquivistas -; classificam os documentos; montam, descrevem e codificam os dossiês, e de três anos para cá, passam ao processo de digitalização. Tudo isso em meio a discussões metodológicas e mudanças bruscas, pois não é incomum que documentos sejam achados depois de um arquivo já devidamente organizado. “É uma alegria e também uma tristeza nessas horas”, brincou Abellás.

Revolução

A segunda palestra do dia foi ministrada por Luís Felipe Youres do Amaral, gerente do Instituto Light e do Centro Cultural Light S.A, que relatou como a Light, ao longo de seus 111 anos, constituiu importante acervo histórico que conta hoje com mais de 600 mil peças históricas, como móveis, documentos, fotografias e equipamentos.

Amaral ressaltou que o acervo da Light não conta somente a história da empresa ou da eletricidade, mas também a história da cidade do Rio de Janeiro e de suas transformações urbanísticas. Isto é possível por que, naquela época, a empresa era a pioneira na geração e distribuição da eletricidade na cidade, a qual era palco de mudanças históricas até por ser capital do Brasil.

O advento da eletricidade, acredita Amaral, foi mais impactante para a sociedade do que a revolução digital. “Imagine você lá, no século 19, tendo que parar suas atividades às 20h por conta da falta de luz, e de repente podendo ter energia elétrica, a casa iluminada?”.

Eletrificação rural

Antes da terceira palestra do primeiro dia do PreservaME 2016, o pesquisador do Centro da Memória da Eletricidade Paulo Brandi fez uma breve comunicação com a descrição do seu projeto de pesquisa sobre a Eletrificação Rural, realizado a partir da base digital do arquivo central da Eletrobras, com o objetivo de descrever o percurso da eletrificação rural no Brasil, suas principais etapas e desafios. Até o final do ano um livro sobre o tema, em edição bilíngue (Português-Espanhol), com 368 páginas, deverá ser lançado pela Memória da Eletricidade.

Paulo Brandi falou ainda da importância do arquivo central da Eletrobras, o qual classificou como um “tesouro”, por contar a história do setor elétrico brasileiro. Segundo o pesquisador, ele serve de base de consulta para pesquisadores de todo o mundo, além de embasar  projetos e programas criados pela empresa, como a própria criação do Centro da Memória da Eletricidade.

“Faça você mesmo”

Salim Seabra, coordenador do Centro de Documentação da Chesf (CDO)C, na terceira palestra do dia, apresentou as estratégias de digitalização, preservação e guarda dos acervos documentais custodiados pelo CDOC. Segundo ele, os problemas financeiras e de pessoal acabaram por mudar o método de trabalho na instituição.

“Foi preciso mudar o processo cultural ‘do faça por mim’ para o ‘faça você mesmo’”, disse o profissional. “O atendimento ficou 50% mais rápido e feito diretamente pelo funcionário da recepção” afirmou. Essa mudança só foi possível graças à implantação de um programa que gerencia e sincroniza documentos em tempo real. “ Esse processo, ainda que não seja o ideal, gerou uma otimização na busca e no atendimento as demandas recebidas pela Chesf”, contou Salim.

Digitalização e direito

Débora Paiva e Gabrielle Moreira, ambas profissionais do Museu  da Imagem e do Som (MIS), relataram as dificuldades do museu para nos projetos de digitalização e desenvolvimento do banco de dados do MIS. Segundo Débora, apesar de ter museu no nome, o MIS é antes um arquivo e tem enfrentado diversas dificuldades para transferir o seu acervo para o mundo digital. Ainda assim, a instituição já conta com cerca de 230 terabytes em arquivos dos mais diversos formatos digitais.

Mas não é apenas no trabalho de digitalização que residem os problemas do MIS, segundo as profissionais. O lado jurídico também ergue barreiras ao trabalho, pois as normas legais que envolvem os direitos autorais dificultam a disponibilização do que Débora e Gabrielle chamam de “acervo vivo” ao público.

Democratização

Democratizar o acesso ao acervo é uma dos objetivos da Fundação Biblioteca Nacional, segundo , Joaquim Marçal, pesquisador da divisão de iconografia da instituição, que ministrou a última palestra do primeiro dia do Preserva.ME-2016. Para chegar ao objetivo, a FBN criou a BN Digital, mas, acredita o profissional, não basta apenas a iniciativa da instituição – é necessário que a sociedade tenha o interesse de participar  da difusão do conhecimento e na conservação dos acervos históricos.

Marçal, que é curador do portal Brasiliana Fotográfica, da FBN, apresentou o projeto, que reúne o material iconográfico sob guarda da instituição, uma parte de todo o acervo , que consta não só de livros, mas também de monografias, dissertações e teses.

Confira aqui as fotos do primeiro dia do Preserva.ME 2016.

A diretora executiva da Memória da Eletricidade, Helena Guido (entre as coordenadoras Leila Lobo, à esquerda, e Lígia Cabral), abriu o Preserva.ME-2016 – Crédito: Lamark Morais

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